O Ano Santo Mariano e o Jubileu Carismático
Para um católico praticante desatento talvez passe por despercebido este fato providencial de Nosso Senhor: 2017 é Ano Mariano para a Igreja no Brasil e Jubileu de Ouro de um grande derramar do Espírito que visitou a Igreja Católica dando origem a Renovação Carismática. Talvez seja possível que alguém ainda se pergunte: “Mas, e daí?” Daí que é uma oportunidade única, sobretudo para aqueles que se encontram na Renovação, descobrirem ou repensarem a ligação íntima e indispensável entre o Espírito Santo e Nossa Senhora.
Maria, no dizer de Santo Epifânio, foi um livro grande e novo no qual só o Espírito Santo escreveu. O seu regaço, disseram os Padres da Igreja, foi a 'oficina' onde o Espírito Santo teceu ao Verbo a sua veste humana, o 'tálamo' no qual Deus se uniu ao homem.
Neste ano jubilar, a RCCBRASIL escolheu uma música muito conhecida por todos nós católicos. Inclusive de autoria do meu santo bispo já falecido, Dom Carlos Alberto Navarro. A letra diz: “Quando Teu Pai revelou o segredo à Maria...”. Irmãos, nada “me tira da cabeça” que o segredo de Maria foi o Espírito Santo. Sim! Tudo o que ela foi aconteceu por Obra Dele! Nela, Ele não encontrou obstáculo algum! Nela, Ele pôde fazer tudo que Deus originalmente sonhou fazer na vida de seus filhos! A Ele, ela se abriu sem resistência alguma! Nunca houve (com todo respeito) uma dupla como esses dois!
Da sua concepção imaculada à sua eleição, da sua fecundação virginal ao dramático nascimento de Seu Filho, da matança aos inocentes ao exílio no Egito, da espada de dor na alma à perda de Jesus em Jerusalém, das bodas de Caná ao sofrimento de Seu Filho na Paixão, da sua resiliência aos pés da cruz à espera da Ressurreição e de Pentecostes, tudo, absolutamente tudo, Maria deve ao Espírito Santo, Seu Esposo, Força e Segredo!
E é assim que nós precisamos e queremos viver! O Movimento Carismático não é um movimento de manifestações exteriores ou fenômenos estranhos, não é uma promoção de carismas ordinários e extraordinários, nem tão pouco um movimento de massas. A Renovação genuína promove a vida nova no Espírito! Maria é a proclamação viva e concreta do que a Graça divina deseja fazer no relacionamento entre Deus e o seu povo! Cheia de graça, crescendo em graça, habitada pelo Espírito, “Cheia do Espírito Santo no corpo e no coração” (continua a dizer o hino), em estreita comunhão com o Espírito, com abertura e total docilidade a Ele... Maria é tudo que nós que desejamos a vida no Espírito queremos ser! Por isso, o Concílio diz que ela foi “como que plasmada pelo Espírito Santo e feita nova criatura” (Lumen Gentium, 56).
Alguém até poderia desconfiar da relação dos carismáticos com Maria por motivo da nossa origem e dimensão ecumênica; portanto, a renovação segue aberta ao Espírito Santo e a doutrina ortodoxa da Santa Igreja! A Renovação, com a sua experiência para com o Espírito Santo, invoca Maria para a experiência da atualização do Cenáculo a fim de obter a graça de um Novo Pentecostes. Como bons católicos, os que se encontraram na Renovação vivem um relacionamento filial para com a Mãe de Deus, invocando-a através de orações espontâneas, tendo-a como um exemplo de abertura ao mesmo Espírito, a carismática por excelência. Uma das grandes belezas da oração carismática é relacionar-se com Maria como pessoa viva e atuante!
Trezentos anos de Aparecida! Cem anos de Fátima! Cinquenta anos de Renovação Carismática Católica! O Deus Vivo continua agindo na história através de inúmeros despertares espirituais avivando e atualizando a comunhão com os homens e a Sua Igreja. Nestes últimos tempos, o tempo da Igreja, o Espírito Santo está visitando poderosamente todas as pessoas de todas as condições. E também pensamos pensar nas aparições marianas como visitas da Mãe. Perfeitos visitadores! Eis o que Eles são! Íntimos e incansáveis visitadores!
Gostaria de concluir com algumas citações da Constituição Pastoral “Gaudium et Spes” (Alegria e esperança) do Concílio Vaticano II sobre a Igreja no mundo de hoje. A partir do número nove, diz o texto:
“O mundo atual apresenta-se, assim, simultâneamente poderoso e débil, capaz do melhor e do pior, tendo patente diante de si o caminho da liberdade ou da servidão, do progresso ou da regressão, da fraternidade ou do ódio. E o homem torna-se consciente de que a ele compete dirigir as forças que suscitou, e que tanto o podem esmagar como servir. Por isso se interroga a si mesmo (...)
Na verdade, os desequilíbrios de que sofre o mundo atual estão ligados com aquele desequilíbrio fundamental que se radica no coração do homem. Porque no íntimo do próprio homem muitos elementos se combatem. Enquanto, por uma parte, ele se experimenta, como criatura que é, multiplamente limitado, por outra sente-se ilimitado nos seus desejos, e chamado a uma vida superior. Atraído por muitas solicitações, vê-se obrigado a escolher entre elas e a renunciar a algumas. Mais ainda, fraco e pecador, faz muitas vezes aquilo que não quer e não realiza o que desejaria fazer. Sofre assim em si mesmo a divisão, da qual tantas e tão grandes discórdias se originam para a sociedade. Muitos, sem dúvida, que levam uma vida impregnada de materialismo prático, não podem ter uma clara percepção desta situação dramática; ou, oprimidos pela miséria, não lhe podem prestar atenção. Outros pensam encontrar a paz nas diversas interpretações da realidade que lhes são propostas. Alguns só do esforço humano esperam a verdadeira e plena libertação do gênero humano, e estão convencidos que o futuro império do homem sobre a terra satisfará todas as aspirações do seu coração.
A Igreja, por sua parte, acredita que Jesus Cristo, morto e ressuscitado por todos, oferece aos homens pelo seu Espírito a luz e a força para poderem corresponder à sua altíssima vocação; nem foi dado aos homens sob o céu outronome, no qual devam ser salvos . Acredita também que a chave, o centro e o fim de toda a história humana se encontram no seu Senhor e mestre. E afirma, além disso, que, subjacentes a todas as transformações, há muitas coisas que não mudam, cujo último fundamento é Cristo, o mesmo ontem, hoje, e para sempre”.
Que pelas mãos de Maria, o Espírito Santo coloque em nossas mãos neste Ano Santo a chave que é Cristo! Que possamos com Ele abrir e permanecer para sempre guardados em Seu Coração, em Sua Igreja e em nosso lugar neste mundo enquanto perdurarem nossos dias! E ao chegar a nossa hora, visitados sejamos pela grande Mãe de Deus, Maria Santíssima e pelo Espírito Santo Paráclito, Penhor de imortalidade. Amém! Aleluia!
Padre Dudu
Março de 2017
Ano Mariano e Ano Jubilar da RCC